Feriado de carnaval, segundo dia de descanso em casa, se bem que em casa eu praticamente não descanso, encher a caixa d’água, molhar a grama, alimentar os cães, limpar o canil, ufa… cansei. Mas sobrou tempo para prepara os estudos bíblicos e em particular essa meditação nossa de cada semana. E é justamente por citar o carnaval que começo a pensar sobre o texto de hoje:
“O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. ” (João 1.10-13)
Quando vejo essa multidão país afora celebrando o pecado de maneiras variadas e de forma tão natural ao lema de “nada é proibido”, fico a pensar que nada está mais explícito do que as doutrinas da Depravação Total e Regeneração Soberana. E é sobre os efeitos do pecado que o apóstolo João nos fala no verso 10 e 11, quando declara de forma esplêndida a reação dos homens em face da fulgurosa luz de Cristo. Note que Jesus veio ao mundo e o mundo não o conheceu. Como pôde aquele que é Deus, que fez todas as coisas, criou todo o universo, o homem, todos os animais, as lindas e exuberantes paisagens da Terra, enfim, tudo o que existe, não ser conhecido dos homens quando veio para eles? Será que o problema estava em Cristo? Na sua apresentação ou na sua mensagem? Será que ele foi falho em revelar-se? Ou será que o problema estava no homem? Não precisamos de muito esforço para reconhecer que o erro não estava em Cristo, mas sim no homem, no pecador, em todos aqueles que nasceram pecadores e foram feitos ignorantes a respeito de Cristo pelos efeitos da queda. De que outra forma explicaríamos como os homens puderam e podem ser tão ignorantes, tão cegos ao ponto de não poder enxergar a luz de Cristo, mais brilhante que o sol, senão pela morte espiritual que cada um sofreu? Pois foi isso que o pecado fez conosco, nos matou.
Hoje o Evangelho é pregado em quase todos os lugares, a televisão, o rádio, a internet, são os mais variados meios em que a Palavra de Deus é anunciada aos pecadores. Mas em contrapartida, parece que vivemos tempos em que as pessoas mais desprezam essa mensagem. A cada ano que passa podemos ver a impiedade, a violência, a pornografia e o pecado de forma geral tomando conta de toda a sociedade. O quadro é desanimador, parece que o quanto mais pregamos, mais se torna difícil as pessoas se converterem. Mas não devemos desanimar, pelo contrário, é isso que deveríamos esperar, pois se rejeitaram Cristo e sua mensagem, o que nos faria pensar que não rejeitariam a nós e a mensagem de Cristo que pregamos? Eu e você não ensinamos, pregamos ou evangelizamos melhor que o próprio Jesus, portanto, não espere que homens mortos venham a ter vida confiado em sua persuasão, eloquência, conhecimento e desenvoltura em anunciar a mensagem da salvação. Porque a grande verdade é que pregamos a mortos. E que resposta um morto pode dar?
Essa pergunta nos leva a segunda doutrina implícita nessa passagem, especialmente nos versos 12 e 13, a doutrina da Regeneração, ou Chamada Eficaz, ou ainda da Graça Irresistível. Tudo se resume a uma pergunta: “Como um pecador morto pode receber a Cristo? ”. Se Jesus veio ao mundo e o mundo não o conheceu, se os seus (judeus) não o receberam, se é impossível ao homem ver a beleza da luz de Cristo, como pode haver esperança? Quando neste feriado olhamos as pessoas celebrando o pecado no carnaval, como podemos ainda ter esperança que elas podem passar da morte para a vida, quando tudo o que fazem é rejeitar o autor da vida? João dá a resposta para esse dilema quando nos ensina como é que uma pessoa nasce de novo.
Observe o que diz os versos 12 e 13: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. ”
Temos aqui, como diz o nobre Steven Lawson, os dois lados de uma mesma moeda, de um lado a Conversão, e do outro a Regeneração. A conversão é algo que o homem tem que fazer, é de sua responsabilidade se converter, mas a regeneração é a ação de Deus, que capacita o homem a se converter. Antes que alguém me critique por dizer que a conversão é responsabilidade do homem, deixe-me dizer que ninguém pode crer pelo homem, nem mesmo Deus. É o homem que crê, é ele que tem de se arrepender, é ele que tem que confessar a Cristo, mas é Deus que nos regenera atuando em nós, nos infundindo fé, nos levando a reconhecer nossos pecados e arrependidos clamar pelo perdão. É Deus que nos regenera dando-nos um novo coração. A regeneração antecede a conversão, ela é a causa, a conversão é o efeito.
Segundo Lawson, o verso 13 nos mostra três negativas de como não viemos a Cristo.
Não viemos por ascendência étnica – não nasceram do sangue.
Não viemos por obras – nem da vontade da carne.
Não viemos por vontade própria (não há ninguém que busque a Deus) – nem da vontade do homem.
Mas ao final do verso existe uma afirmação positiva de como viemos a Cristo, a saber, “pela vontade de Deus”.
Na verdade, não temos nada diferente daquelas pessoas que estão neste momento celebrando os desejos da carne, se não fora a misericórdia de Deus, estaríamos ainda na mesma condenação delas. Não foi por nosso mérito que fomos feitos filhos de Deus, senão pela sua graça soberana em nos chamar de forma eficaz e nos regenerar sobrenaturalmente. Se viemos a crer em Jesus foi porque Deus nos fez nascer de novo, ele retirou nosso coração de pedra, abriu nossos olhos e ouvidos, e então pudemos ver a sua maravilhosa luz e ouvir sua doce voz. Foi o Espírito Santo que nos convenceu do pecado, que nos fez entender a pregação da Palavra, que nos deu dessa forma a fé para nos arrependermos. Ninguém nasce antes de ser concebido no ventre materno, da mesma forma Deus regenera nosso coração para que possamos nascer em Seu Reino.
Como isso afeta nossas vidas de forma prática?
Nos faz perder a confiança em nossas técnicas, sabedoria e persuasão na pregação da Palavra.
Nos faz evangelizar dependendo de Deus, pois só ele ressuscita pessoas mortas.
Nos faz continuar anunciando a mensagem do evangelho, ainda que não a recebam e nos rejeitem.
Nos faz dar toda a glória a Deus na salvação dos pecadores.
Deus salvará todos os seus eleitos, só ele tem o poder de penetrar o mais duro coração, o mais surdo ouvido, abrir os olhos de todos os cegos de nascença, chamar os mortos para fora da sepultura do pecado. Mas não esqueçamos que a responsabilidade de anunciar ao mundo perdido que Deus salva pecadores em Cristo, essa tarefa é minha e sua.
Para encerrar me lembrei de uma conversa que tive com o nobre pr. Marcos Teixeira sobre “ganhar almas”. Lembramos de quando éramos bem mais novos e as pessoas ao final do ano perguntavam: “Quantas almas para Jesus você ganhou esse ano? ” Como isso era aterrador, pois muitos não haviam “ganho” um único pecador para Jesus. Hoje mais velhos, percebemos o quanto isso era equivocado, afinal as almas não são “ganhas” por nós, mas foi Cristo que comprou cada uma delas na cruz do calvário. Hoje já não me preocupo tanto quando alguém me diz que ninguém se converteu quando ele foi ao evangelismo anunciar o evangelho, mas me preocuparia e muito, se ao final do ano alguém, ou eu mesmo não tivesse pregado a ninguém. Pois o trabalho de Deus é converter e o nosso é apenas o de pregar.
Que Deus nos abençoe.
Prof. Claudio Braga
Batalhando Pela Verdade
IPB – Jaguaquara/BA.
Fontes:
Texto bíblico da Almeida Revista e Corrigida
Alguns trechos foram baseados na palestra de Steve Lawson em sua mensagem “Depravação Radical” na Conferência Fiel de 2012.